quinta-feira, 14 de abril de 2011

T da Terra

Não sei se o dia começou, exatamente, porque as noites de insônia são como memórias da criança que emergem duma névoa. Eu não dormi, mas esperei a madrugada para despertar. Ao me levantar com o sol, me deu um novo sentimento de amizade para ele. Isso foi complicado, bem rapidamente, com a friagem fora da barraca, e eu vi que seus raios ainda não tinham alcançado a ladeira onde ficava. Estava incrivelmente frio. Eu automaticamente associei a areia com o calor quando planejei esta viagem, e recebi uma noite miserável por este conhecimento pobre do mundo natural. Porém, quando eu fiquei de pé e mirei o rio de luz atravessando o vale, não me perturbou muito a friagem ou a fadiga. Só podia ficar pasmado pelo tamanho do mundo sem paredes ou telas, completamente e totalmente real em toda direção. Não podia resistir imaginar um homem ficando de pé aí cem ou mil ou dez mil anos antes. De repente a friagem me mordeu com ferocidade—eles provavelmente não tinham circulação tão horrível nas mãos—e virei para procurar os fósforos e acordar o meu amigo. A imaginar um homem ficando de pé lá cem mil anos depois é mais difícil: o mundo real é um tesouro doloroso.

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