quarta-feira, 27 de abril de 2011

Z de Zarpar (Zuarte)

Ás vezes uso jaqueta de brim com jeans. Algumas pessoas perguntam por que uso smoking canadense, outras por que uso smoking mexicano. É engraçado porque brim é classicamente americano. A confusão vem do fato de que mundo está coberto de brim atualmente.

Essa é a realidade de morar num pais com cultura praticamente onipresente graças à globalização e o poder nacional. Há gente que diz americano não tem cultura, mas provavelmente escuta as bandas americanas e conhece os nossos filmes. Ainda, num sentido, tem razão. Se a cultura cobra ao mundo, se torna como algo nublado no fundo. Se torna como uma tela quando outras culturas aparecem em cores vividas e distintas. Eu lembro quando vi um Mcdonalds em Madrid num edifício muito antigo e legal. Inicialmente, senti conforto, porém, rapidamente, receio. Um Mcdonalds, no centro desta cidade tão elegante e digna, num edifício gotejando historia e possivelmente mais antigo que o meu país? Na mesma viagem acompanhei um amigo espanhol a um filme americano. Foi horrível. Claro, eu gosto de muitos aspetos culturais do meu país: a comida (especialmente do sul), o Rock & Roll, a mescla étnica, a individualidade feroz, mas às vezes , quando viajo, eu penso num tópico sobre o qual já escrevi: a fronteira. Onde encontraria agora?

Y de Yadda Yadda Yadda

Não posso recordar se a vida imita a arte ou a arte imita a vida. Possivelmente a citação original inclui as duas, não sei. É certo que, para mim, a vida imita Seinfeld.

Um artigo no Wall St. Journal disse que Seinfeld não parece engraçada atualmente porque as pessoas ágoras estão tão obcecadas com si mesmas que não vêem o ridículo dos personagens. Obviamente esse escritor tem sentido de humor bem antagônico. Na minha opinião, nada é mais engraçado que o que mostra a realidade, ridícula e banal. Eu adoro Seinfeld e não estou preocupado em ouvir os seus ritmos na minha vida. Os meus amigos gostam de identificar momentos de Seinfeld nas nossas conversações neuróticas. Não são citações diretas, mas preocupações ou coes embaraçosas e exageradas. Se a vida imitasse essa parodia desta maneira, estivesse bom.

X de Xenofobia

A sociedade tolerante fica numa crise de identidade constante porque abraça todas as outras ideologias que tentam infestá-la com suas próprias idéias e valores. Idealmente a sociedade tolerante seria invencível aos habitantes intolerantes, mas não acontece assim, especialmente na universidade. Ao insistir que se faça tudo “politicamente corretamente” confessa se que é necessário lutar contra a intolerância com mais intolerância. Isso em usa torna é usado como arma para atacar idéias dissidentes. Todos que fazem isso- vão se foder.

Seriamente, sou agradecido pelos idealistas que brigam por qualquer expressão, a gente que gosta de dizer “não concordo com o que diz mas morro por seu direito de dizê-lo.” Mas que tipo de utopia seria esse, realmente? Acho que a sociedade tolerante não exista em nenhum país, e a situação ideal não pode existir por causa das contradições de suportar uma coisas e todas as coisas a uma mesma vez. Como pode suportar uma expressão livre e suportar a gente que quer proibir livros? Depende tudo da perspectiva em que se significa “livre” e na esperança de que essa liberdade ganhe. Por isso, é no alcance e não no objeto elusivo que encontramos uma forma de tolerância ou liberdade em nosso mundo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

W de Web

O grande desafio da seguinte geração de escritores é escrever sobre a tecnologia.
Isso é uma cita duma professora de inglês dum amigo que relatou ela para mim. Não me considero escritor, mas isso fez impacto forte. É justo: não tenho lido sobre os mensagens apaixonadas e floreadas no Facebook. Em conjunção com isso, eu havia suspeitado a existência dum vazio na alma da internet. Mas isso é uma perspectiva reacionária, uma resposta à natureza difícil de adaptar.

Escassez faz valor em muitas coisas. É mais fácil e tentador mergulhar nas palavras duma carta e saboreá-las que de um e-mail. Mas o propósito das frases e sentimentos expressados numa carta não é a carta. É a abrir-se à outra pessoa, algo que não deve ser valorizado em termos de disponibilidade. Então, o orgulho de não compartilhar demais faz sentido em termos econômicos ou, possivelmente, estilísticos, mas isso não deve ser a preocupação final. Acho que, para mim, o temor da comunicação instantânea e ilimitada é que, quando a porta estiver aberta, uma inundação interminável de expressão profunda não chegue. Na web é possível encontrar e esgotar os limites desta maneira, e por isso são reticentes com suas vozes.

Conheço uma menina que disse que encanta virtualidade. Inicialmente isso me parecia vápido- que preconceituoso sou! Os conquistadores das vistas apavoradas da interação na internet ficam na fronteira da experiência humana. Hoje faz duas semanas que não tenho perfil em “lugar para amigos” porque percebi que só era espelha para minhas preocupações e esperanças. Não tenho nenhuma idéia de que está acontecendo nas vidas dos meus amigos, mas me dava conforto só existir na realidade, se isso tiver sentido. Os navegadores nos planos de refração ilimitado vai descobrir.

V de Voltar

A volta, ou idéia da volta, é o que nos sustenta nas viagens difíceis. Depois de toda adversidade, pensamos, posso voltar para casa, á terra natal, e vou estar seguro. Essa é a fortaleza pessoal: se tudo cair aos pedaços, ainda é possível voltar.

Também é uma ilusão. Odisséus volta a uma mulher infiel e tem que matar os pretendentes. Frodo Baggins volta a uma Shire arruinada por Saruman. Quando voltei à minha casa depois de dois anos na universidade no Texas, não encontrei algo literalmente como nas histórias, mas ainda não era o que ficava na minha imaginação ansiosa, e não podia matar alguém para revogar isso. É possível manter a ilusão por alguns dias pela vontade desperada- pode tentar ignorar o cabelo grisalho na coroa do pai, o passo fraco da mãe, ou algo diferente nos olhos da irmã. Mas não pode fazer trilhas que agora são subúrbios ou brincar com o cachorro que agora esta morto. Tudo muda- o mundo que era o seu vai embora, e a viagem não termina.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

U de Universidade

A universidade moderna é um centro da turbilhão de nossa sociedade- portão de sucesso, centro de fomentação intelectual ou política, oportunidade para hedonismo extremo para muitos. Para os que podem pagar é o barco que traz meninos à vida de adulto na maneira preferida, e isso não é algo muito simples.

No passado, só era para gente aristocrática ou real; atualmente, é também o domínio da gente real. É lá que pessoas na realidade podem tentar agarrar os ramos ventosos da realeza. Isso é algo muito frustrante. Antes, os estudantes, geralmente muito ricos, pretendiam tornar-se eruditos e respeitáveis. Agora o propósito é, basicamente, a encontrar trabalho. Para pessoas como eu que têm encontrado uma relação inversa entre os sujeitos interessantes e os que conduzem a carreiras lucrativas e seguras, isso é receita para decisões penosas. O conflito entre dinheiro e interesses é especialmente acentuado nas universidades americanas porque são tão caros: é necessário encontrar algo que paga bem para escapar a dívida ou a ira dos fundadores da educação.

Então, é uma ironia terrível ficar paralisado pela sombra do homem erudito e aristocrático, quando ele não tinha que pensar na maneira em que seus estudos seriam quantificados. É gostoso imaginar que a seguir as paixões é honorável, mas as vezes tenho o sentimento rastejante que eu ando sem direção, lamentando quem me dera que eu fosse aristocrata...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

T da Terra

Não sei se o dia começou, exatamente, porque as noites de insônia são como memórias da criança que emergem duma névoa. Eu não dormi, mas esperei a madrugada para despertar. Ao me levantar com o sol, me deu um novo sentimento de amizade para ele. Isso foi complicado, bem rapidamente, com a friagem fora da barraca, e eu vi que seus raios ainda não tinham alcançado a ladeira onde ficava. Estava incrivelmente frio. Eu automaticamente associei a areia com o calor quando planejei esta viagem, e recebi uma noite miserável por este conhecimento pobre do mundo natural. Porém, quando eu fiquei de pé e mirei o rio de luz atravessando o vale, não me perturbou muito a friagem ou a fadiga. Só podia ficar pasmado pelo tamanho do mundo sem paredes ou telas, completamente e totalmente real em toda direção. Não podia resistir imaginar um homem ficando de pé aí cem ou mil ou dez mil anos antes. De repente a friagem me mordeu com ferocidade—eles provavelmente não tinham circulação tão horrível nas mãos—e virei para procurar os fósforos e acordar o meu amigo. A imaginar um homem ficando de pé lá cem mil anos depois é mais difícil: o mundo real é um tesouro doloroso.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

S de Sobras

Tenho amigos na faculdade que são relativamente normais, com exceção dum certo ritual que eles fazem e que eu não posso explicar ou entender. Conheço Matt e Lauren desde a escola secundária, embora nos tenhamos tido um período de estranhamento de dois anos quando eu estudava numa outra universidade no Texas. Eu só percebi esse ritual quando voltei; então, não estou seguro de quando ele começou ou quais manifestações iniciais ele tinha.

Tenho que confessar que só testemunhei o seguinte por uma janela. A minha curiosidade começou quando notei um padrão peculiar: quando eu estava na sua casa às 2:45, eles começaram a sugerir educadamente mas insistentemente que eu saísse. Eu não queria ofendê-los, mas depois de algumas vezes eu me di conta de que sempre acontecia à mesma hora e eles tinham atitude estranhamente frenética. Finalmente, um dia eu acidentalmente saí sem minha bicicleta e quando tentei entrar de volta a porta estava trancada. Eu andei para uma janela e, entre as persianas toras, observei o seu empreendimento com muita surpresa.

O ritual é isto: Lauren come uma banquete por uma hora todo dia. De três até quatro o curso das suas interações muda drasticamente. Lauren sai de seu quarto num vestido elegante e com a pele duma raposa vermelha nos ombros. Sara-Jane, que é o outro companheiro de quarto deles, põe uma toalha de mesa rica e verde na mesa. Matt traz um prato dourada e um cálice. Seus braços agitam do peso enorme. Depois eles saem e voltam com todo tipo de comida sofisticada, especialmente animais selvagens que provavelmente venham duma caça terrível. Lauren devora tudo completamente sem preocupação com a inmudície que faz. Só pára de comer para tomar goles de vinho. Finalmente Matt e Sara-Jane trazem a sobremesa, bolos elegantes com inscrições que são impossível discernir.

Se, por uma razão ou outra, um pedaço de carne de porco ou algo assim é deixado de lado durante a limpeza, que começa às 3:55 e termina as 4:00 exatamente, eles não o mudam depois de voltar aos seus dias normais. Porém, inevitavelmente passam o resto da noite dando olhadas rápidos para ele, suas caras torcidas com receio.

terça-feira, 5 de abril de 2011

R de Ressaca

Bem-vindo e olá a todos! Ficamos no campus da Universidade Rice. Olhem para as árvores majestosas- tem mais árvores que estudantes! Que incrível. Chegamos ao dormitório Duncan. Informação sobre a consciência ambiental fantástica desta universidade: Duncan é o primeiro dormitório que tem certificado “ouro” pelo grupo LEED. Incrível! Este edifício tem grama no telhado. Grama no telhado! As janelas conservam energia super eficientemente. Janelas dos lideres do futuro, claro. Andemos ao piso mais alto, que realmente é um piso top! É um piso ao ar livre. Chegamos ao quarto mais perto da escada. Estou batendo na porta. É um prazer enorme ser embaixador da escola a visitantes tão distintos como os senhores. Ai! Alguém vem para abrir a porta.

Oh! Seus olhos são negros e vermelhos.
Podemos entrar e ver seu quarto?
Oh! Sua voz é uma cascata cascalhada de uísque e cigarros.
Bem, nossos estudantes trabalham seriamente e festejam seriamente também, né? Podemos ver seu quarto? Claro que sim, você não seria mal-educado com os nossos visitantes dignos!
Oh! Vidro quebrado. Garrafas em todo lugar! E o seu companheiro de quarto está vivo ou morto?
Isso é um absurdo, absurdo, caso estranhíssimo.. vamos embora, vamos- mas olhem para o chão: é de concreto, super amável ao meio ambiente, nossos lideres do futuro- se vocês pudessem ver o chão...