segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

J de Jacaré

Ela desliza pela água lutuosa, as videiras oscilando no brilho dos dentes, que penduram na boca como dedos lânguidos de relâmpago. Que espera, nesta hora? Todas quantas são perdidas, pessoa ultrapassada que agora só espera a madrugada. Ela, cujas presas amarelas são um crescente de velas na bruma escura, abre sua boca lentamente, levantando o arco até formar uma porta rodeada por um aro de crisântemos. Logo, um viajante chega e, cansado da lama e da escuridão, aceita o convite da porta com suas flores douradas, entra a caverna com sua respiração calorosa e segura, e fecha os olhos ao tranqüilo som do SNAP! da sua sepultura brilhante.


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

I de Independente

Recentemente um problema tem estado fermentando, erupto: a Banda Arcade Fire ganhou um Grammy. Muita gente ficou surpresa, mas eu realmente não sei por quê- sua canção já foi usada como canção tema para um Super Bowl. Ainda, simbolicamente, um Grammy é importante, e suas repercussões irônicas são óbvias. O problema, claro, é que Arcade Fire é de gênero independente, definido originalmente pela separação e oposição ao “mainstram.” Falar desta contradição é óbvio, e eu não quero escrever sobre isso mais. Porém, este momento é seguidor dum processo longe de conflito, separação e absorção de uma cultura diferente e nova. É inoportuno, claro, que o movimento “independente” conjure tão facilmente a imagem de idiotas vaidosos saindo correndo pelas lojas de discos buscando bandas e modismos novos- Parabéns!- mas por outro lado há um ódio profundo voltado aos “hipsters” que sugere um instinto de atacar automaticamente as tentatives de ser diferente ou legal numa maneira que não exige participação nas equipas de futebol americano. Na verdade, estou contente que uma cultura nova esteja juntando com a cultura geral, trazendo novos estilos e idéias para ela. Ainda, agora são como revolucionários em poder, homens que se tornaram os novos conservadores e de quem a geração seguinte de inovação vai ter orgulho de não ser.

http://whoisarcadefire.tumblr.com/

sábado, 19 de fevereiro de 2011

H de Hosni

Hoje é um dia especial. Os jornalista já tinham especulado sobre dias que acontecerá, mas, ainda, quando aconteceu, surpreendeu muita gente. Agora, os mesmos jornalistas especulam no futuro do equilíbrio de poder na região, as reações de Benjamin Netanyahu, se a Casa Branca é bem sucedida ou se tem fracassado terrivelmente. Isso é importante, claro. Eu pergunto se o regime militar novo dará poder aos cidadãos, e se as acordos de Camp David for continuar e manter a paz desconfortável do Oriente Médio.

Mas, para mim, o mais importante é a destruição da imagem monolítica dum regime. Antropologicamente, já é obvio que um governo ou um pais é construção artificial, feita pelos humanos e então não invencível. Porém, é difícil não acreditar nestas ilusões de permanência, não acreditar nisso quando os governos têm armas nucleares e ministérios de verdade e “soma” para a gente descontente. Quando os jovens do Egito usaram a Internet para organizar protestos e Mubarak apagou a internet, vimos uma briga entre o efeito do controle e o efeito de poder popular da tecnologia. Realmente, eu não gosto de lado algum completamente- você prefere um mundo totalitário ou a anarquia? A resposta rápida é Anarquia, mas prefere um mundo em que qualquer pessoa pode obter armas nucleares? Me assusta um mundo que termina em gelo, e um mundo que termina em fogo também.


G de Geologia

Eu sou estudante de Geologia. Há um tipo de paz no coração da terra, e, especialmente, na aceitação do tempo incompreensível. Acho que a única coisa que pode alcançar um nível de transcendência maior é a Astronomia, com tempo e espaço intermináveis. Moramos num piscar perturbado em termos de clima- sem humanos, atualmente, o mundo estaria começando de congelar. Com a calefação global, vamos enfrentar um “tempo interessante,” mas sem isso, realmente, nossa civilização seria certamente destruída por uma época de gelo. Os dez mil anos que geralmente separa os períodos de gelo está acabando. Então, possivelmente não haja paz no Geologia, neste sentido, mas ainda me parece fútil dar uma lágrima por isso, quando o mundo ainda fica nos braços dum universo que não sente ódio ou amor.

F de Fronteira

Tenho amigo que tem um pai com vida muito interessante. Tinha muitos trabalhos, mas, para mim, uma distinção mais poderosa era entre dois trabalhos. Antes, construção dum gasoduto no Bolívia; depois, homem de negócios confortável em Washington. Ele era muito mais contente antes; a diferença, explicou ele, era o estado de ficar numa fronteira. No mundo novo a idéia da fronteira está muito importante na cultura histórica. Nos Estados Unidos o “fechamento da fronteira” foi reconhecido pelo historiador Frederick Jackson Turner no fim do século dezenove. Ele escreveu que o caráter americano foi criado pelo tensão entre a selvageria do sertão e a civilização europeu da que os colonos americanos eram herdeiros. Muitas americanos pensaram na significa desastrosa de morar num pais que ainda não continha fronteira, ainda outros olham para outras países, maneiras de viver, ou espaço profundo como fronteira nova. Atualmente a idéia da fronteira tem desaparecido da mente de muitos americanos, mas para outros, a felicidade ainda fica numa fronteira recuando.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

E de Elefantes

Eles voltaram, finalmente, depois das minhas viagens de buscar fúteis em que eu sempre vi uma silhueta desaparecendo numa nuvem de balões, ou em que espiou uma perna longa e espigada sumindo atrás dum prédio antigo de pedra curvilíneo, me guiando para uma viela alta e sinuosa. Mas agora já voltaram, quando eu estava vagando num plano interminável de divagações. Seus pés apenas não tocam a terra- eles mudam como uma caravana de aranhas gigantescas no vento. A alvorada vermelha está refletida nos seus olhas imperiais, e, no horizonte, minha figura corcunda. Eu não tento segui-los- porque seguiria, agora? Agora, até que enfim, posso dormir.

D de Declínio


Atualmente, neste país, a idéia de declínio está presente em todo lugar- grita das capas de revistas políticas, paira nas aulas e nos escritórios, abençoando conversações pedantes, e até mesmo escorrega nos comícios populistas, uma coisa que não pode ser reconhecido, exatamente, mais por muito é responsável- dívida gargantuosa, guerra interminável, políticos corruptos, filhos preguiçosos, infraestrutura decadente, a gente alienada pela conexão constante com informação banal.

Eu não sei se a America está num declínio terminal; sempre há pessoal dizendo isso, mas os impérios caem aos pedaços sem respeito às previsões falsas. Como estudante da História, me fascinam as reações da gente nos impérios em perigo. Nos impérios romano, britânico, otomano, no Califato Abbasid, pessoas percebiam declínio e prescreveriam, geralmente, um regresso aos modos antigos. Numa época de novas formas de guerra em que o império otomano estava sofrendo, o sultão vestiu a armadura do seu avô e chefiou o exército à batalha. O território do império continuava diminuindo.

C de Colorado

Numa viagem que eu fiz recentemente, muitas pessoas me lembraram de percepção comum do meu estado- um tipo de paraíso turístico completamente coberto de montanhas. Eu não me considero muito bem viajado, mas sempre estou chocado pelas perspectivas estranhas dos americanos sobre outros estados. Um amigo no Texas me disse que imaginava que minha casa estivesse situada no cume duma montanha, e muitas pessoas me perguntaram se Colorado está sempre coberto de neve. As concepções erradas nesta direção no só vão- a gente de Colorado pensa que o Texas é completamente deserto como um filme do oeste antigo. Uma menina de Nova Iorque ficou surpresa que tem caminhos pavimentados lá. Também, acho que muita gente estaria chocada de dar-se conto de que a prefeita de Houston é uma lésbica. Nos filmes de “Star Wars,” todos os planetas são geograficamente uma coisa só- um de deserto, um de cidade, um de gelo, um de pântano, etc. É assim com nossos estados, nossa imaginação popular- é como uma tapeçaria de lugares distintos e monocromáticos.

Na realidade, o leste de Colorado é plano e árido, e as cidades são bagunças com fachadas de pedra falas nos edifícios novos: é muito longe da visão estereotípica de “cidadinha das montanhas.” O front range,” onde a maioria da população mora, está localizada nas planícies mas olhas às montanhas. A gente daqui, então, está um pouco deslocada porque sempre está com saudade das montanhas, onde o Colorado “real” existe. Eu não percebi isso ate morar em Houston, onde a gente não tem esta inquietude. Claro, eles gostam de usar botas do vaqueiro numa cidade gigantesca. É possível que eles sonham com cavalos no deserto.

Uma Banda de Vaqueiros de Houston

B de Bicicleta

Há um tipo de liberdade na bicicleta que não é disponível num carro, no transporte público, ou a pé. Em relação ao primeiro, sempre tem preocupações sobre o petróleo, estacionar, ou, atualmente, o efeito ambiental de dirigir. Quanto ao segundo, é preciso obedecer um horário e visitar lugares especificas. O outro é demais lento- não é estimulante, e está restrito a uma área relativamente pequeno.

Eu gosto de andar de bicicleta nas montanhas e no campo, claro, mas para mim a experiência fundamental da bicicleta é na cidade, numa bicicleta que não é caríssima ou avançada. Aqui em Boulder, todo mundo é atleta profissional, e muitíssima ciclista, mas eu prefiro andar de bicicleta na cidade da minha infância, Longmont, que é uma cidade mais relaxada e não preconceituosa. Aí, no verão, sem destino decidido, estou livre.


A de Adulto?

Nosso sistema de números nos dá a inclinação de dividir ou agrupar quase tudo em grupos de dez, especialmente os anos. As décadas, e os séculos também têm um caráter coerente na nossa imaginação e perspectiva da história. Para um americano, os anos quarenta ou cinqüenta ou sessenta ou setenta conjuram imagens vívidas e distintas. É assim com as décadas da vida. A primeira, infância; a segunda, adolescência; e depois os primeiros dez anos de ser adulto. Legalmente, uma pessoa é adulto quando tem dezoito anos, mas ainda é “teenager” também. (O português não pode ter uma tradução exata porque é resultado dum padrão idiomático da língua inglesa.)

Eu tenho vinte anos. Os meus interesses, amigos, objetivos são mais ou menos os mesmos de quando eu tinha dezenove anos. Ainda, à idéia de embarcar numa década nova é impossível escapar- é arbitrária, mas existe. Ás vezes, de manhã, eu me pergunto se vinte anos é demais para usar os Levis cobertos em rasgões que eram meus jeans favoritos, ou se um álbum de que eu gosto muito é sô para adolescentes. São perguntas estúpidas, reflexões duma concepção arbitrária de tempo ou das fases de passagem da vida, mas ainda estão aí.